Poliomielite: a queda da cobertura vacinal e impactos no Brasil
- Rádio Plural
- 4 de jul. de 2024
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Embora o último caso de poliomielite tenha sido registrado no Brasil em 1989, a baixa cobertura vacinal voltou a acender o sinal de alerta dos especialistas no país.

Criança sendo vacinada contra a poliomielite - Foto: Marcus Lopes, Ministério da Saúde
A poliomielite no Brasil
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a poliomielite passou a ser registrada no Brasil com mais frequência a partir do século XX.
O primeiro registro de surto da doença foi no Rio de Janeiro, entre 1909 e 1911, porém as primeiras políticas voltadas para o controle da pólio só surgiram na segunda metade do século, com a criação das vacinas, dos diagnósticos laboratoriais e da vigilância epidemiológica.
No Brasil, a vacinação contra a poliomielite teve início em 1961 e a vacina tornou-se parte da vacinação de rotina em 1971. Apesar dos esforços e do auxílio das novas tecnologias a doença não foi controlada, principalmente porque grande parte da população não possuía acesso aos serviços de saúde.
Somente em 1980 surgiu o Dia Nacional de Vacinação, estratégia de combate utilizada até os dias atuais. Nesse dia ocorre a vacinação em massa em crianças de até 5 anos de idade.
Em 1989, o Brasil registrou o último caso em isolamento da poliomielite. Foi certificado em 1994 pela Comissão Internacional de Certificação da Erradicação da Poliomielite, por extinguir a doença em todo o território nacional.
Sintomas e transmissão da poliomielite
A poliomielite pode provocar sintomas semelhantes aos de um resfriado comum e até mesmo gerar problemas graves no sistema nervoso central das crianças, como a paralisia de membros periféricos, alterações na fala e alterações de comportamento. Ela é transmitida pela boca através do contato com água e alimentos contaminados por fezes ou por gotículas contaminadas.
A baixa cobertura vacinal no século XXI
De acordo com a Fiocruz, desde 2015 o Brasil não atinge a vacinação de noventa e cinco por cento do seu público-alvo. O dado é um forte indicador do aumento da vulnerabilidade do país em relação à poliomielite. Afeganistão e Paquistão registraram endemias da doença esse ano e acenderam o alerta de especialistas em relação ao risco do retorno da pólio ao Brasil.
“Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, há o risco de importação da doença. É um vírus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmissível do que o Sars-CoV-2, por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal, e é urgente se fazer algo. Não podemos esperar acontecer a tragédia da reintrodução do vírus para tomar providências”, disse Fernando Verani, epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública, em depoimento à Fiocruz.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, após a pandemia da Covid-19 a confiança da população na eficácia e segurança da vacinação diminuiu. A falsa sensação de segurança diante de doenças erradicadas, o receio dos efeitos colaterais de vacinas, a descredibilização dos profissionais da saúde e, principalmente, as fake news ameaçam a cobertura vacinal brasileira.
“As fake news prejudicam a sociedade em várias áreas, mas na saúde elas têm um impacto muito maior, porque podem matar. Essa onda de fake news nas redes sociais faz com que os indivíduos tenham medo da vacina, fazem com que a vacina seja contestada, temida e até mesmo deixada de lado.”, afirmou Waldirene Soares, técnica em enfermagem do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte (MG), em entrevista à Rádio Plural.

Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite é prorrogada - Foto: Prefeitura de Mariana
A importância da vacinação contra a poliomielite
A vacinação contra a pólio evita mutações do vírus e previne o surgimento de variações mais agressivas. A queda na cobertura vacinal é uma questão de saúde pública e representa uma forte ameaça à reintrodução da doença no Brasil, visto que no caso da poliomielite é o principal meio de prevenção da contaminação.
“Com a pandemia as pessoas se afastaram dos serviços de saúde, houve também a falta de campanhas de incentivo à vacinação no último governo e, com isso, começou a ocorrer uma baixa cobertura vacinal. [...] Acredito que campanhas com incentivo à vacinação devem ser retomadas, crescemos sendo vacinados e o que observamos é que com as vacinas as crianças sofrem menos com as doenças da infância, dentre elas, a pólio. Não temos outra forma de proteção que não seja pela vacina.”, nos relatou Andréia Luisa, técnica em enfermagem por mais de 30 anos no sistema público de saúde, em depoimento.
Campanha de vacinação em Minas Gerais
A campanha de vacinação contra a poliomielite foi prorrogada em todo o estado de Minas Gerais e ocorrerá até o dia trinta de junho. A vacina é gratuita e está disponível através do SUS para crianças dos 2 meses a menores de 5 anos de idade.
Em Mariana a vacina é encontrada na Central de Imunização, localizada no bairro Barro Preto, e nas outras unidades básicas de referência; em Ouro Preto a vacinação acontece em todas as Unidades Básicas de Saúde.
Texto: Mariana Ribeiro e Victória Kelly.
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