“ZÉ PEREIRA É FAMÍLIA, TODOS QUE FAZEM PARTE DO BLOCO TEM MUITO CARINHO PELA SUA HISTÓRIA.”
- Rádio Plural
- 27 de fev.
- 4 min de leitura
Por Bianca Andrade, Geovanna Lopes e Heloá dos Santos
Fundado em meados de 1840, o bloco Zé Pereira da Chácara começou originalmente em Portugal e foi conduzido para o Brasil pelos imigrantes portugueses. Logo em seguida se espalhou pelas regiões de Ouro Preto, Mariana, Olinda e Piranga. Com o passar dos anos, o bloco se tornou referência no carnaval de Mariana, tornando-se patrimônio cultural da cidade.
Em entrevista concedida à Plural, o atual presidente do Zé Pereira da Chácara, Darlan Malta, contou sobre a história do bloco em meio a exposição “Gigantes da Folia: a história viva do Zé Pereira” que está aberta a visitas no Casarão Cláudio Manoel. Segundo ele, a exibição se deu ao fato de o bloco de 179 anos ter acumulado mais de 100 bonecos em sua sede, a Toca do Zé Pereira, inviabilizando a montagem de novos e a restauração dos bonecos já existentes. Darlan afirma que a ideia partiu do secretário de cultura, Eduardo Batista.

Ao contar sobre a história do Zé Pereira, o presidente relata de sua origem portuguesa, onde os bonecos de 5 metros serviam para realização de procissões da Igreja Católica. O tamanho servia para que, quem estivesse em barcos e navios, pudessem ver o evento ocorrendo na beira da praia. De acordo com Malta, a chegada da tradição no Brasil, se deu por meio do sapateiro português José Nogueira de Azevedo Paredes, que chega à cidade do Rio de Janeiro em 1846 e funda o primeiro Zé Pereira. No mesmo ano, viaja para Mariana e funda o Zé Pereira da Chácara. Na cidade, passa a ensinar os escravizados da Chácara do Barão a confeccionar os bonecos. Segundo ele, antigamente o Carnaval era elitizado: “Vai ter o Clube Marianense e o Carnaval de rua, propriamente. Ele era mais de elite”. Hoje em dia ele abrange mais pessoas e culturas, sendo aberto e abraçando a todos.

Questionado sobre a produção do Carnaval de 2025, Darlan afirma que o bloco sairá todos os dias da festividade, mesmo em meio às dificuldades que enfrentam devido a uma dívida de 178 mil. Ela foi causada pela gestão da última diretoria e impossibilita que a prefeitura os contrate. Apesar disso, a comunidade marianense se mobiliza com doações de roupas, materiais e água para o desfile ocorrer. “Sempre tem alguém que ajuda o Zé Pereira”, afirma o presidente.
A folia contará com 8 novas produções de bonecos, dentre elas uma figura indígena que homenageará o Guarany Futebol Clube que completa 100 anos em 2025. A confecção dos bonecos leva cerca de uma semana para sua criação, mas podem demorar mais a depender das condições climáticas da cidade devido ao corpo ser produzido com taquara e bambu. As estruturas são refeitas com o passar do tempo e a cabeça é preservada, realizando apenas restaurações nas mesmas para conservação. Zé Pereira da Chácara possui bonecos com mais de 70 anos de história.
Nesse Carnaval, o bloco volta a sair tocando de sua sede na Chácara. “Esse ano, a gente está resgatando a história do Zé Pereira, então vai ter lamparinas que na época em que Mariana não tinha luz, o pessoal tinha que sair com as lanternas em frente ao Zé Pereira para clarear a rua”, disse Darlan. A tradição cultural do bloco é passada de pai para filho, com os integrantes detendo seus próprios bonecos. Muitas pessoas importantes para a história marianense tem sua caricatura representada e se vê envelhecendo junto ao seu boneco, como o escritor Fernando Morais ou Seu Jadir, pasteleiro famoso na cidade que também foi homenageado pelo bloco.

O presidente também conta que hoje em dia o Zé Pereira é tombado como Patrimônio Imaterial de Mariana. “Estamos com um projeto de lei na assembleia para tombar o bloco como Patrimônio do Estado e depois do Carnaval, devemos ir para Brasília apresentar a história do Zé Pereira com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco” comentou Darlan.
Hoje o Zé Pereira é o bloco mais antigo em atividade no Brasil, e conta com muitas histórias. Entre elas a quase aparição na novela Tieta de 1989, no entanto, Dom Luciano, arcebispo de Mariana na época, sofreu um acidente e, pela proximidade do Zé Pereira com a igreja, o bloco decidiu não ir. Felizmente, anos depois o Zé Pereira consegue mais uma oportunidade de aparecer na Globo em 2013, no programa Esquenta com Regina Casé.
Darlan disse que todos que desfilam no bloco criam uma afeição muito grande pelo boneco, cuidando de sua restauração e conservação. Ele também comenta que os integrantes sentem ciúmes dos seus bonecos “É quase como uma namorada”, brinca Darlan. O bloco conta com pessoas de todas as idades e vários bonecos de tamanhos diferentes, “Todos querem desfilar, porém, esse ano tem mais pessoas do que bonecos” relata Darlan.

O Zé Pereira segue como um dos maiores e mais antigos símbolos do carnaval de rua em Mariana e no Brasil. Sua história, cheia de emoção e tradição, continua a encantar e unir gerações, mantendo vivas as raízes da cultura popular. Em 2025, o bloco promete mais uma edição marcante, com muita alegria, música e os icônicos bonecos, a essência do desfile. O Zé Pereira não é apenas uma festa, é uma verdadeira celebração de história, identidade e pertencimento, e continuará certamente a emocionar foliões por muitos anos.
Comentarios